Olhares Diversos
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
Dos caminhos: passos longos. Presente passado nem tão limpo. Futuro. Descanso cercado em flor e uma saudade muda. Carrega nas mãos o desejo da alma e conserva na fronte a benção. É movida pela fé. Cambaleia. Ao levantar, ora e agradece. Rápido traça o sinal da cruz como quem não esquece do que foi. Em seguida recomeça. Apaga o sonho e ascende uma estrela. O ano mais uma vez deixa sua marca no rebento das lembranças. Pensa no que pode ser doce. Guarda. Um sorriso quente que não se vê. Sintoniza uma estação de suspiro. Tem cheiro de azul dias assim. A palavra é primavera. Coração chora mas não morre. Enquanto o destino brinca, vive feliz.
vanessa leonardi
terça-feira, 15 de novembro de 2011
Sai pela porta, mas deixa sempre uma janela aberta.
Apressa o passo. Pula umas pedras pelo caminho e vai. Um sorriso aberto
feito sol de verão que inaugura o dia. Lembra da menina que era ainda em
outras primaveras. Quem inaugurava agora, era ela. Estampa o rosto de
mudança. Percebe o tamanho das pernas. Prontas para pular. Agora
abismos. Essa era sua especialidade. Pulos. Sempre em frente. Depois de
muito tempo, ela agora sabia bem onde queria chegar.
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
Provavelmente as coisas mudariam com o
tempo, com o passar de cada dia, aqueles longos, compridos, esticados
num relógio feito para esmagar a paciência de quem chora, sim, as coisas
ficariam bem. Tudo ficaria organizado, como meias colocadas na gaveta,
como roupas separadas por cores, como chuva com hora certa para chover,
mês certo para ir embora. Mas, quem é que disse que o coração sabe
esperar pelo tempo? Coração desconhece lugar, não conta noites nem
estações. Coração dispensa até mesmo o óbvio por que é imediatista.
Coração precisa de nuvem pra chover em tempo de seca e não quer esperar o
horário do tempo marcado. Precisa de doçura que antecipe a doçura que
está por vir. Quer lenços que sequem as lágrimas que ainda nem se quer
molharam o rosto. Coração é impaciência, desespero, tem medo do medo.
Provavelmente, sim, é claro que as coisas mudariam com o tempo, com o
passar de cada dia, mas ela queria a cura pra ontem.
Camila Heloíse
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
O que me vale é que tenho uma alma muito bem-disposta, todos temos, ela
sempre dá um jeito de me fazer encarar as lições. Apronta mestres.
Improvisa material didático. Reinventa métodos. Brinca com a minha
ilusória fuga. Aguarda-me nas salas de aula porque sabe que, no fim das
contas, eu apareço. Aguarda-me porque sabe que tantas vezes preguiçosa
por ter tanto pra aprender, tanto pra curar, tanto pra transformar, no
fundo, continuo interessadíssima em crescer.
Ana Jácomo
Cai
uma chuva gelada por trás da vidraça. Os dedos dos pés impacientes
dentro da meia de lã, as mãos se aquecendo com a xícara de café, os
lábios sendo mordiscados com os dentes, um pijama velho, um moletom
jogado em cima, os cabelos bem amarrados, os olhos pequenos e perdidos
acompanhando o desenho que água faz no vidro da janela.Não me importo em
estar assim despojada, só quero me sentir o máximo bem que puder,
embora seja improvável isso acontecer em uma noite de sexta, quando o
fim de semana chega e você não tem ninguém. Ninguém que vá te abraçar
enquanto a chuva cai lá fora. Ninguém que vá acalmar a tempestade que
acontece dentro de você. Ninguém que vá te dar a mão quando você tem
tanto receio de estar sozinha. Ninguém que ficaria ali, de graça,
deitado ao teu lado escutando os trovões. Por um instante você pensa que
isso é tão triste, que isso pode ser tão miserável e o amor parece ser
uma esmola que você pede em troca de um sorriso, por mais falso que isso
pareça. Frágil, o barulho da chuva viola o silêncio do pensamento, da
lembrança, da doce ignorância em planejar o futuro. Você tem medo,
porque você vê que tem tanta lágrima por dentro, escondida, calada,
tímida e um dia chuvoso e frio é tão pouco comparado a tudo que você
esconde atrás de um rosto discretamente limpo e doce.
Cáh Morandi
terça-feira, 11 de outubro de 2011
Ilusão: É não querer ir embora de um
lugar que nem se quer existe. Quando a miopia já atingiu os olhos do
coração. Quando choro já não sabe chorar sem fazer alarde. Quando a
birra persiste, insiste imaginando que possa haver alguma solução.
Quando os pés tocam o vazio e imaginam tapetes e nuvens, quando cores
existem no que na verdade é preto e branco. Ilusão é estender a mão para
direção contrária. Oferecer abrigo em temporal para quem prefere andar
na chuva. É realizar manifesto solitário. É deixar de amar. De ser. De
ser amor. De se amar.
Camila Heloíse
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