sexta-feira, 17 de dezembro de 2010



O estranho na moda
Por Eleni em 7/10/10

Da Redação MB+D

O Estranho na moda: a imagem nos anos 1990 lança um olhar sobre as imagens de moda da segunda metade do século XX. . Quase sempre perturbadoras e transgressoras, elas mudaram o conceito de corpo e de beleza, chamando a atenção para a imperfeição. Nessa década, o luxo passou a ser decadente.
O conceito de “estranho”, que a pesquisa evidencia, mostra-se extremamente atual, sendo notável sua recorrência em desfiles, editoriais, campanhas…
O lançamento é, sem dúvida, de grande interesse para todo aquele que aprecia ler o conteúdo das imagens, para além da superfície.
Na escolha das imagens representativas da época, a autora mostrou-se especialmente seletiva. A expressividade destas combina-se a um texto fluído, através do qual as informações e repertórios instigam reflexões. As imagens foram cedidas por importantes nomes da fotografia de moda nacional e internacional, como Corinne Day, Michael Baumgarten, Sean Ellis, Andréa Giacobbe, Cristiano Madureira e Paschoal Rodrigues.
Silvana concilia o olhar de uma profissional da moda - com sólida experiência em revistas brasileiras, como Vogue e L´Officiel -, a um rico discurso, fruto de sua trajetória acadêmica. Não é sempre que conseguimos encontrar títulos que saibam conjugar tão bem a moda, que circula na mídia, com uma argumentação teórica de notável qualidade.
Vertentes estéticas
O movimento iniciado em Londres e que ficou conhecido como heroin chic utiliza elementos que remetem ao uso abusivo de drogas – em especial a heroína – e à anorexia. Começou como uma experimentação de linguagem com um pequeno grupo de fotógrafos, em especial Corinne Day, que clicava as amigas em cenários urbanos de periferia. Uma delas viria a se tornar ícone da década e uma das modelos mais importantes da atualidade: Kate Moss.
O capítulo intitulado Bonecas: simulacro fashion mostra como a moda critica a si mesma ao transformar suas modelos em seres inanimados, quase objetos. A partir de exemplos publicados em diversas revistas, é possível traçar paralelos com o romance O paraíso das damas (Au bonheur des dames), escrito por Émile Zola entre 1882 e 1883, e com a posição social ocupada pelas mulheres no século XIX.
Ciborgue: uma metáfora pós-moderna traz outra face do jogo animado-inanimado, composta de organismos híbridos, mecanização e pesquisas com novas texturas e superfícies. Especialmente as manifestações da moda em torno das bonecas e dos ciborgues despertam um mal-estar “inexplicável”, vindo de algo familiar.
Da mesma forma, a morte é um tema recorrente, que aparece no trabalho de vários fotógrafos e estilistas com desdobramentos como o suicídio e a femme fatale.
Ao propor uma reflexão sobre a imagem adotada pela moda nos anos 1990, que transformou em glamour o antiglamour, o livro pretende oferecer um entendimento desse processo, sua relação com fatos histórico-socioculturais e o uso do corpo como suporte para experimentações - que resultaram numa revolução na linguagem de moda contemporânea.