sábado, 8 de janeiro de 2011


Que a força do medo que tenho. Não me impeça de ver o que anseio. Que a morte de tudo em que acredito. Não me tape os ouvidos e a boca. Porque metade de mim é o que eu grito. Mas a outra metade é silêncio. Que a música que ouço ao longe. Seja linda ainda que tristeza. Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada. Mesmo que distante. Porque metade de mim é partida Mas a outra metade é saudade. Que as palavras que eu falo. Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor. Apenas respeitadas. Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos. Porque metade de mim é o que ouço. Mas a outra metade é o que calo. Que essa minha vontade de ir embora. Se transforme na calma e na paz que eu mereço. Que essa tensão que me corrói por dentro. Seja um dia recompensada. Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão. Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável. Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso Que eu me lembro ter dado na infância. Por que metade de mim é a lembrança do que fui. A outra metade eu não sei. Que não seja preciso mais do que uma simples alegria. Pra me fazer aquietar o espírito. E que o teu silêncio me fale cada vez mais. Porque metade de mim é abrigo. Mas a outra metade é cansaço. Que a arte nos aponte uma resposta. Mesmo que ela não saiba. E que ninguém a tente complicar. Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer. Porque metade de mim é platéia. E a outra metade é canção. E que a minha loucura seja perdoada. Porque metade de mim é amor. E a outra metade também.

Metade - Oswaldo Montenegro